Professor Almeida Filho presents a more detailed assessment of his preliminary hypothesis regarding the roots of the higher education system of contemporary Brazil. He analyzes the direct and indirect effects of the Cabanis Reform in configuring the higher education model which became hegemonic in Latin-American countries, as illustrated by the case of Brazil. In the first part, he briefly discusses the social, ideological, and institutional framework that, simultaneously, restructured the national education system, the health care model, and the new imperial higher education program in post-revolutionary France. With this aim, he presents a summary of biography and oeuvre of Georges Cabanis, with a focus on his forgotten role as a successful reformer of educational systems. Secondly, he discusses the main points of the new organization of the health system and medical education, led by Cabanis and colleagues, highlighting conceptual dimensions, especially in relation to its potential articulation with the education system in general. Third, he outlines curricular and pedagogical aspects of the medical education model based on professionalism, disciplines, and specialization that resulted in a system of higher education without universities. Historical events related to the reorganization of the French education system, in the context of social reforms that began in the Consulate regime, consolidated in the Empire, and were maintained in the Restoration, are described.
Durante muito tempo, a saúde foi entendida simplesmente como o estado de ausência de doença. Considerada insatisfatória, esta definição de saúde foi substituída por outra, que engloba bem-estar físico, mental e social. Embora mais abrangente, o novo conceito não está livre de dificuldades, sobretudo quando se leva em conta a legitimidade dos movimentos que defendem a ‘saúde para todos’. “A partir daí, a sociedade literalmente bate à porta das instituições acadêmicas e científicas que supostamente deveriam saber o que é, como se mede e como se promove ‘essa tal de saúde’”, problematiza o autor, que é professor de Epidemiologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, a obra demonstra que a definição de saúde não é trivial e constitui grande lacuna epistemológica no campo da saúde coletiva. Os capítulos retomam os debates filosófico, teórico, metodológico e pragmático sobre saúde, doença e noções correlatas, como vida e qualidade de vida, morte, sofrimento, cuidado e iniquidades.
Apresenta textos que discutem, entre outros temas: a interface entre a epidemiologia, matemática e filosofia; a pandemia pelo HIV/Aids e o desenvolvimento de vacinas anti-HIV; as estratégias para a investigação biológica e histórica da paleoparasitologia; os conceitos e métodos na implementação de ações de saúde e políticas; o impacto dos meios de comunicação no desenvolvimento da epidemiologia e na dinâmica da tecnologia médica; as perspectivas de eliminação do sarampo no Brasil; as estratégias metodológicas relativas à desnutrição de adultos.
Parte do princípio de que finalmente uma malaise epistemológica se instala na epidemiologia, determinada pela incômoda posição de principal responsável pelas contradições da saúde pública neste fim de milênio. Assim, convoca estudiosos e profissionais a questionar fundamentos, explorar interfaces e formular discursos competentes indicadores de tendências.
Psychiatric epidemiology, like the epidemiology of cancer, heart disease, or AIDS, contributes increasingly to shaping the biopolitics of nations and worldwide health campaigns. Despite the field's importance, this is the first volume of historical scholarship addressing psychiatric epidemiology. It seeks to comprehensively trace the development of the discipline and the mobilization of its constructs, methods, and tools to further social ends. It is through this double lens—conceptual and social—that it envisions the history of psychiatric epidemiology. Furthermore, its chapters constitute elements for that history as a global phenomenon, formed by multiple approaches. Those numerous historical paths have not resulted in a uniform disciplinary field based on a common paradigm, as happened arguably in the epidemiology of cardiovascular disease and cancer, but in a plurality of psychiatric epidemiologies driven by different intellectual questions, political strategies, reformist ideals, national cultures, colonial experiences, international influences, and social control objectives. When examined together, the chapters depict an uneven global development of epidemiologies formed within distinct political-cultural regions but influenced by the transnational circulation and selective uptake of concepts, techniques, and expertise. These moved through multidirectional pathways between and within the Global North and South. Authored by historians, anthropologists, and psychiatrists, chapters trace this complex history, focusing on Brazil, Nigeria, Senegal, India, Taiwan, Japan, the United Kingdom, the United States and Canada, as well as multicountry networks.
A universidade enfrenta desafios de uma magnitude sem precedentes. Durante séculos considerada uma instituição de utilidade inquestionável, é hoje interpelada por sectores cada vez mais amplos da sociedade que questionam os seus reais ou supostos privilégios, o seu elitismo, a sua contribuição efectiva para o desenvolvimento do país. Este livro é o produto de uma colaboração entre dois professores universitários que têm vindo a reflectir sobre a universidade e o seu futuro. Partilham a ideia de que a universidade não poderá responder aos novos desafios sem passar por profundas transformações. Um deles, Boaventura de Sousa Santos, tem dedicado, ao longo dos últimos trinta anos, vários textos a este tema. O outro, Naomar de Almeida Filho, é Reitor da Universidade Federal da Bahia e, nesta qualidade, está a ter a oportunidade de transformar muitas das ideias em que convergem num programa reitoral de que nos dá conta na sua contribuição.
O foco do livro está centrado nas necessidades e problemas de saúde das populações e nas respostas sociais organizadas para a atenção, intervenção e superação dessa problemática e seus desdobramentos.
Jorge Luís Borges, num conto triste intitulado "Utopía de un hombre que está cansado", toma como epígrafe Quevedo: "(...) utopia, voz griega cuyo significado es no hay tal lugar". O termo utopia estabeleceu-se como sinônimo de projeto irrealizável, lugar impossível. Num momento recente, tornou-se popular a declaração de que vale a pena lutar por utopias. Sinceramente, discordo. Acho o utopismo patético e melancólico. Para mim, a luta que vale a pena é por lugares possíveis. A "Universidade Nova" não é uma utopia. Trazemos, sim, uma proposta provocadora, realista, viável, portanto realizável; seguimos um movimento assumidamente desejante, mobilizador, histórico (no sentido de operado pela ação humana). Por tudo isso, proponho chamá-la de "protopia". Ao neologismo se aplica a mesma etimológica do termo utopia. Mas atenção: no lugar da negação, do vazio, temos o prefixo "pro", a favor de, na direção de, atuante (como em "proativo"). Criamos, aqui, um movimento a favor de um lugar; movemo-nos em direção a esse lugar; nesse movimento, construímos o novo lugar, nossa protopia, a Universidade Nova.
Após o lançamento do ensaio A cruel pedagogia do vírus, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos traz ao leitor uma obra que propõe pensar a sociedade pós-pandemia, sua complexidade, os problemas que a antecedem e possíveis futuros. Como um diagnóstico crítico do presente, Boaventura aponta que as desigualdades e descriminações sociais já tão presentes nas sociedades contemporâneas, se intensificaram ainda mais em um contexto pandêmico. Com atenção especial ao modelo econômico-social, ao papel da ciência e do Estado na proteção dos mais necessitados, o autor traz um profícuo debate para se pensar em alternativas econômicas, políticas, culturais e sociais que apontem para um novo modelo civilizatório de sociedade. “O novo século começa agora, em 2020, com a pandemia, e aconteça o que acontecer. É, no entanto, um começo diferente dos anteriores. Se for apenas o começo de um século de pandemia intermitente, haverá nele algo de fúnebre e crepuscular, o início de um fim. Por outro lado, pode ser também o começo de uma nova época, de um novo modelo civilizacional”, reflete o autor.